Mostra inédita e interativa sobre o
universo cascudiano ocupará um dos mais importantes centros culturais da
América Latina, durante quatro meses, com estimativa de 100 mil visitantes
O projeto é realizado em parceria entre
a Casa da Ribeira (RN) e Instituto Ludovicus – Casa de Câmara Cascudo (RN),
através do apoio integral da família do folclorista, intelectual e etnógrafo
potiguar e especialistas em sua obra
Evento deu a largada com recursos
parcialmente captados através da Lei Federal de Incentivo a Cultura – Lei
Rouanet, e entre os primeiros patrocinadores estão a empresa paranaense O
Boticário e a cearense Marquise, além de parceiros importantes como a chef Ana
Luíza Trajano, Secretaria de Cultura de São Paulo/ Museu da Língua Portuguesa,
Academia Paulista de Letras, Academia NorteRiograndense de Letras, Global
Editora e Expomus
Ele traduziu a memória coletiva do povo brasileiro.
Da história da alimentação aos nossos gestos e costumes, através de obras
fundamentais como o “Dicionário do Folclore Brasileiro” e “História da
Alimentação no Brasil”, o etnógrafo, pesquisador, folclorista e escritor
norte-rio-grandense Luís da Câmara Cascudo (30/12/1898 — 30/07/1986) deixou um
rico legado que permanece ainda pouco conhecido, explorado e vivenciado pelas
novas gerações. Esse universo cascudiano tão amplo e inesgotável, capaz de
encantar intelectuais, estudiosos e leitores mundo a fora, ganhará uma
experiência única este ano, para todo o público. Está confirmada, a partir do
segundo semestre, a realização da mostra inédita “Câmara Cascudo no Museu da
Língua Portuguesa”, em São Paulo.
Em mais de 600 m² de área, o setor de exposições
deste que é um dos maiores centros culturais da América Latina será o endereço
para quem quiser vivenciar esta experiência de navegar pelo mundo de Câmara
Cascudo, com todas as suas viagens sensoriais – cores, texturas, movimentos e
sons da cultura popular brasileira, compreendendo a importância e a
contemporaneidade de seus conhecimentos. A mostra sobre Câmara Cascudo seguirá
o mesmo conceito de outras exposições já realizadas no local, como as de Jorge
Amado, Clarice Lispector e Fernando Pessoa.
Capitaneado pela Casa da Ribeira (RN) e Instituto
Ludovicus – Casa de Câmara Cascudo, ambas as entidades do Rio Grande do Norte,
o projeto tem curadoria colaborativa da família do intelectual potiguar, dos
produtores da Casa da Ribeira, da Expomus, empresa especializada em realizar
projetos museológicos no porte de “Guerra e Paz de Portinari”, e da chef Luiza
Trajano, além de consultoria de especialistas na obra do pesquisador.
Devido a amplitude de sua obra, a mostra ganhou um
plus a mais: ficará em cartaz durante quatro meses, até final de dezembro de
2015. “Ficamos surpresos com o espaço que o museu dará a este acontecimento.
Será uma das mais extensas já realizadas no local”, destacou o produtor Gustavo
Wanderley, responsável pelo desenvolvimento de produção e coordenação de
curadoria. A expectativa de visitação é em torno de 100 mil visitantes e 40 mil
educandos.
Patrocinadores de peso e novos
parceiros
Aprovado pela Lei Federal de Incentivo a Cultura –
Lei Rouanet com orçamento total de R$ 1,5 milhão, “Câmara Cascudo no Museu da
Língua Portuguesa” já deu a largada com a captação dos primeiros patrocinadores
nacionais, a empresa paranaense O Boticário e o cearense Grupo Marquise. Além
dos patrocínios, a exposição já conta com outros parceiros envolvidos, como a
Secretaria de Cultura de São Paulo, Academia Paulista de Letras e Global
Editora (responsável pela publicação das obras de Cascudo).
Os produtores esperam fechar as últimas cotas de
patrocínio até os meses de junho e setembro, respeitando os prazos previstos na
Lei Rouanet. Por enquanto, nenhuma empresa potiguar fechou patrocínio, mas os
produtores estão otimistas com a receptividade de algumas já visitadas, como o
grupo Riachuelo. A equipe já participou de reuniões com as secretarias de
Turismo e de Cultura, com a senadora Fátima Bezerra (PT) e com a vereadora
Júlia Arruda (PSB). Com esta parlamentar, foi discutida a possibilidade de
integrar a mostra à pasta do Turismo. “Uma exposição que prevê 100 mil
visitantes é uma forma de vender Natal como destino de turismo cultural de
grande relevância”, diz o produtor além da visibilidade que as mídias darão a
exposição, a exemplo das Organizações Globo que é fundadora do Museu da Língua
Portuguesa em São Paulo.
Trancender os livros: uma mostra
interativa e pulsante
Trata-se de uma mostra diferenciada, que transcende
a mera exposição estática de acervo de livros e objetos pessoais. Esse é o
perfil que deve nortear a exposição “Câmara Cascudo no Museu da Língua
Portuguesa”. Com uso de tecnologia e muita interatividade, a mostra trará
experiências que valorizem essa diversidade registrada por Câmara Cascudo, os
saberes, os sentires e suas práticas.
“A exposição contempla pontos de toque que
extrapolam o universo literário, como a cultura popular, a gastronomia e o
idioma. Cascudo revelou ‘brasis’ invisíveis aos brasileiros, e é imperativo
mostrar isso às novas gerações”, reforçou Gustavo Wanderley. “Queremos que as
pessoas percebam a contemporaneidade de sua obra”.
O recorte curatorial foi definido a partir de cinco
módulos: Em “O Tempo e Eu” será abordado o autor e o homem Cascudo, e abrange a
sua biografia, compreendendo o período de 1898 a 1986, com ênfase para sua
produção intelectual, ficcional ou não, sua extensa rede de amizades (incluindo
as correspondências com grandes intelectuais como Mário de Andrade) e as
viagens de estudos que empreendeu pela África e Europa.
O segundo módulo é “Dança, Brasil”, que compreende
os autos e as festas populares do Brasil. O terceiro tema é “Todo trabalho do
homem é para sua boca”, que explora a gastronomia e a alimentação a partir do
magistral estudo História da Alimentação no Brasil” obra que busca de nossas
origens alimentares.
Depois segue com o módulo “A Literatura Oral e a
Voz do Gesto”, que trata da literatura oral, o conto, a lenda, as adivinhações
e provérbios, cantos, orações e frases-feitas que o povo se apropriou. O gesto
surge como precursor da linguagem em todos os recantos do mundo. Por fim “A
Religião no Povo”, que abordará o sincretismo brasileiro a partir do sentimento
da religiosidade popular manifestado através de bênçãos, promessas, santos
tradicionais, orações, pragas, profecias, superstições, amuletos, entre outros
objetos de estudo do folclorista.
Entusiasta e pesquisadora da gastronomia genuína
brasileira, a chef Ana Luíza Trajano foi uma das primeiras parceiras a se integrar
ao projeto Câmara Cascudo no MLP”. Proprietária do restaurante Brasil a Gosto,
ela conta que o livro “História da Alimentação no Brasil” sempre foi base de
sua pesquisa em cozinha brasileira. “Foi a partir deste livro de Câmara Cascudo
e minhas viagens pelo Brasil que consegui informações para resgatar nossa
cultura culinária. Exaltar sua obra em uma exposição no Museu da língua
portuguesa, é a melhor maneira de popularizar suas histórias e disseminar a
nossa gastronomia como patrimônio cultural brasileiro”, declarou a chef.
Imersão na Casa de Câmara Cascudo e o
início da execução
Nos dias 14 e 15 de maio (quinta e sexta-feira
passadas), os coordenadores da mostra Gustavo Wanderley e o arquiteto Edson
Silva participaram, junto com Daliana Cascudo e parte da família do
folclorista, de uma imersão no museu-residência do mestre, o Instituto
Ludovicus. Na ocasião foi realizada a pesquisa fotográfica e documental,
complementada com bate-papos para exercitar a memória de cada um. Também foram
selecionados o material em vídeo de alta resolução com entrevistas e cenas
gravadas com Cascudo, que fazem parte do acervo do Instituto. O encontro
servirá como ajuda na definição dos limites da linha curatorial.
Para Daliana Cascudo, neta e atual presidente do
Ludovicus, a exposição é a realização de um antigo sonho da família. “Após
testemunharmos a presença de Guimarães Rosa, Gilberto Freyre, Cora Coralina,
Jorge Amado, Clarice Lispector, Oswald de Andrade, contemporâneos Cascudianos,
no Museu, sentíamos que faltava alguém num dos melhores museus da América do
Sul”, destaca.
Após a primeira imersão e definida a linha
curatorial da exposição, o projeto entra na fase de execução. “Para quem tinha
como objeto de estudo o “povo brasileiro em sua normalidade” se faz mais do que
necessário que este mesmo povo conheça sua obra e se reconheça nela. Nossa
intenção é aproximar Cascudo, vivo e atual, do grande público e torná-lo
conhecido como ele merece. E ao falar de Cascudo, mostramos também o Rio Grande
do Norte que ele tanto amou e de onde nunca quis sair, definindo-se como um
‘provinciano incurável’.
Em termos materiais, a casa construída em 1900 não
“viajará” para São Paulo, mas suas memórias e objetos serão todos recriados e
mostrados para o mundo. “O custo com o seguro de objetos museológicos é muito
alto e, no nosso caso, ultrapassa as cifras da exposição, então não cogitamos
levar para São Paulo acervo de grande valor financeiro”, contou Wanderley.
Segundo ele, muita coisa será recriada pela cenografia ou a partir dos recursos
tecnológicos previstos no orçamento.
Com experiência em projetos e plantas para
exposições no Brasil, o arquiteto Edson Silva entende que o mais importante
será transpor esse universo de Câmara Cascudo para o plano da experiência, com
um conteúdo sempre contextualizado. Um exemplo dessa interatividade é fazer o
público se sentir como se estivesse na sala do mestre, manipulando sua
inseparável máquina de escrever e relendo as cartas projetadas em uma resma
gigante. Ou ainda ouvindo sua voz original enquanto confere o objeto de estudo
em tempo real.
Números previstos e itinerância
A exposição sobre Câmara Cascudo no Museu da Língua
Portuguesa (SP) tem expectativa de receber 100 mil visitantes em quatro meses
(de setembro a dezembro de 2015). Entre o público-alvo e as ações previstas
está a participação de 40 mil educandos do projeto educativo e 40 mil livretos
para aplicação nesta área de formação, além de impressos em formato de cordel.
Serão ocupados 492 metros quadrados para a exposição, englobando cinco módulos,
com 70 profissionais envolvidos. Estão previstos desdobramentos da exposição
após a permanência no Museu da Língua Portuguesa, com possibilidade de
estabelecer itinerários no Brasil (RN e outros) e também no exterior, a exemplo
da Fundação Gulbenkian em Lisboa.
Doação sem ônus para o patrocinador:
Conheça o Artigo 18 da Lei Rouanet
Gustavo Wanderley e Edson Silva destacam a
importância de se investir em projetos incentivados pela Lei Rouanet, sobretudo
nesta modalidade artística enquadrada no Artigo 18, como é o caso das
exposições. O patrocinador interessado poderá deduzir 100% do valor investido,
em forma de doação, sem ônus financeiro para a empresa patrocinadora. Ou seja,
dentro do limite de 4% para pessoa jurídica e 6% do IR para pessoa física, o
patrocinador fará apenas o repasse, sem contrapartida financeira para ele. “O
sistema é simples e rápido, por isso é importante destacar esse diferencial no
caso da mostra de Cascudo”, enfatizam os produtores.
O museu da Língua Portuguesa
O Museu da Língua Portuguesa abriu suas portas ao
público no dia 21 de março de 2006. Localizado no histórico edifício Estação da
Luz, o museu tem como diferencial ser interativo, com seu conteúdo dedicado à
língua portuguesa. Foi concebido pela Secretaria da Cultura paulista em
conjunto com a Fundação Roberto Marinho, tendo um investimento de cerca de 37
milhões de reais.
O objetivo da instituição é criar um espaço vivo
sobre a língua portuguesa, considerada como base da cultura do Brasil, onde
seja possível causar surpresa nos visitantes com os aspectos inusitados e,
muitas vezes, desconhecidos de sua língua materna.
De sua inauguração até o final de 2012, mais de 2,9
milhões de pessoas já visitaram o espaço, consolidando-o como um dos museus
mais visitados do Brasil e da América do Sul.
Os produtores
Gustavo Wanderley é um dos sócios-fundadores da
Casa da Ribeira, ocupando atualmente a função de Diretor de planejamento e
projetos da Casa da Ribeira. É Especialista em Gestão Cultural e Inovação em
Serviços, curador e desenvolve projetos sociais e culturais desde 1999. Neste
projeto, desenvolve o desenho de produção e a coordenação de curadoria.
Edson Silva é arquiteto e produtor cultural.
Desenvolve há mais de 15 anos projetos de equipamentos culturais e desenho de
exposições. Edson é diretor de relações com investidores da Casa da Ribeira e,
no projeto Câmara Cascudo no Museu da Língua Portuguesa, está responsável pela
coordenação expográfica.
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