DEFINIÇÃO
A Estilística estuda os processos
de manipulação da linguagem que permitem a quem fala ou escreve sugerir
conteúdos emotivos e intuitivos por meio das palavras. Além disso, estabelece
princípios capazes de explicar as escolhas particulares feitas por indivíduos e
grupos sociais no que se refere ao uso da língua.
1- Denotação e Conotação
A significação das palavras não é fixa, nem
estática. Por meio da imaginação criadora do homem, as palavras podem ter seu
significado ampliado, deixando de representar apenas a ideia original (básica e
objetiva). Assim, frequentemente remetem-nos a novos conceitos por meio de
associações, dependendo de sua colocação numa determinada frase.
Observe os seguintes exemplos:
A menina está com a cara toda
pintada.
Aquele cara parece suspeito.
Aquele cara parece suspeito.
No primeiro exemplo, a palavra cara significa
"rosto", a parte que antecede a cabeça, conforme consta nos
dicionários. Já no segundo exemplo, a mesma palavra cara teve
seu significado ampliado e, por uma série de associações, entendemos que nesse
caso significa "pessoa", "sujeito", "indivíduo".
Algumas vezes, uma mesma frase pode apresentar duas (ou mais)
possibilidades de interpretação.
Veja:
Marcos quebrou a cara.
Em seu sentido literal, impessoal, frio, entendemos
que Marcos, por algum acidente, fraturou o rosto. Entretanto, podemos entender
a mesma frase num sentido figurado, como "Marcos não se deu bem",
tentou realizar alguma coisa e não conseguiu.
Pelos exemplos acima, percebe-se que uma mesma
palavra pode apresentar mais de um significado, ocorrendo, basicamente, duas
possibilidades:
a)
No primeiro exemplo, a palavra apresenta seu sentido original,
impessoal, sem considerar o contexto, tal como aparece no dicionário. Nesse
caso, prevalece o sentido denotativo - ou denotação -
do signo linguístico.
b) No segundo exemplo, a palavra
aparece com outro significado, passível de interpretações diferentes,
dependendo do contexto em que for empregada. Nesse caso, prevalece o
sentido conotativo - ou conotação do signo
linguístico.
Obs.: a linguagem poética faz
bastante uso do sentido conotativo das palavras, num trabalho
contínuo de criar ou modificar o significado. Na linguagem cotidiana também é
comum a exploração do sentido conotativo, como consequência da nossa
forte carga de afetividade e expressividade.
2 -
Figuras de Linguagem
São recursos que tornam as mensagens que emitimos
mais expressivas. Subdividem-se em figuras de som, figuras de
palavras, figuras de pensamento e figuras de
construção.
Classificação
das Figuras de Linguagem
Observe:
1) Fernanda acordou às sete
horas, Renata às nove horas, Paula às dez e meia.
2) "Quando Deus fecha uma porta, abre uma janela."
3) Seus olhos eram luzes brilhantes.
2) "Quando Deus fecha uma porta, abre uma janela."
3) Seus olhos eram luzes brilhantes.
Nos
exemplos acima, temos três tipos distintos de figuras de linguagem:
Exemplo 1:
há o uso de uma construção sintética ao deixar
subentendido, na segunda e na terceira frase, um termo citado anteriormente - o
verbo acordar. Repare que a segunda e a última frase do primeiro
exemplo devem ser entendidas da seguinte forma: "Renata acordou às
nove horas, Paula acordou às dez e meia. Dessa forma, temos
uma figura de construção ou de sintaxe.
Exemplo
2:
a ideia principal do ditado reside num jogo
conceitual entre as palavras fecha e abre, que
possuem significados opostos. Temos, assim, uma figura de pensamento.
Exemplo
3:
a força expressiva da frase está na
associação entre os elementos olhos e luzes brilhantes.
Essa associação nos permite uma transferência de significados a ponto de
usarmos "olhos" por "luzes
brilhantes". Temos, então, uma figura de palavra.
Figura de
Palavra
A figura de palavra consiste
na substituição de uma palavra por outra, isto é, no emprego figurado, simbólico,
seja por uma relação muito próxima (contiguidade), seja por uma
associação, uma comparação, uma similaridade. Esses dois conceitos
básicos - contiguidade e similaridade -
permitem-nos reconhecer dois tipos de figuras de palavras: a metáfora e
a metonímia.
Metáfora
A metáfora consiste em utilizar uma palavra ou uma
expressão em lugar de outra, sem que haja uma relação real, mas em virtude da circunstância
de que o nosso espírito as associa e depreende entre elas certas semelhanças. É
importante notar que a metáfora tem um caráter subjetivo e momentâneo;
se a metáfora se cristalizar, deixará de ser metáfora e passará a ser catacrese
(é o que ocorre, por exemplo, com "pé de alface", "perna da
mesa", "braço da cadeira").
Obs.:
toda metáfora é uma espécie de comparação implícita, em que o
elemento comparativo não aparece.
Observe a
gradação no processo metafórico abaixo:
Seus olhos são como luzes brilhantes.
O exemplo
acima mostra uma comparação evidente, através do emprego da
palavra como.
Observe
agora:
Seus olhos são luzes brilhantes.
Nesse exemplo não há mais uma comparação (note a
ausência da partícula comparativa), e sim um símile, ou seja, qualidade
do que é semelhante.
Por
fim, no exemplo:
As luzes brilhantes olhavam-me.
Há
substituição da palavra olhos por luzes brilhantes.
Essa é a verdadeira metáfora.
Observe
outros exemplos:
1) "Meu pensamento é um
rio subterrâneo." (Fernando Pessoa)
Nesse caso, a metáfora é possível na medida em que
o poeta estabelece relações de semelhança entre um rio subterrâneo e seu
pensamento (pode estar relacionando a fluidez, a profundidade, a
inatingibilidade, etc.).
2) Minha alma é uma estrada de terra
que leva a lugar algum.
Uma estrada de terra que leva a lugar algum é, na
frase acima, uma metáfora. Por trás do uso dessa expressão que indica uma alma
rústica e abandonada (e angustiadamente inútil), há uma comparação
subentendida: Minha alma é tão rústica, abandonada (e inútil) quanto uma
estrada de terra que leva a lugar algum.
Metonímia
A metonímia consiste em empregar um termo no lugar de outro, havendo
entre ambos estreita afinidade ou relação de sentido. Observe os exemplos
abaixo:
1 - Autor pela obra: Gosto de
ler Machado de Assis. (= Gosto de ler a obra
literária de Machado de Assis.)
2 - Inventor pelo invento: Édson ilumina o mundo. (= As lâmpadas iluminam o mundo.)
3 - Símbolo pelo objeto simbolizado: Não te afastes da cruz. (= Não te afastes da religião.)
4 - Lugar pelo produto do lugar: Fumei um saboroso havana. (= Fumei um saboroso charuto.)
5 - Efeito pela causa: Sócrates bebeu a morte. (= Sócrates tomou veneno.)
6 - Causa pelo efeito: Moro no campo e como do meu trabalho. (= Moro no campo e como o alimento que produzo.)
7 - Continente pelo conteúdo: Bebeu o cálice todo. (= Bebeu todo o líquido que estava no cálice.)
8 - Instrumento pela pessoa que utiliza: Os microfones foram atrás dos jogadores. (= Os repórteresforam atrás dos jogadores.)
9 - Parte pelo todo: Várias pernas passavam apressadamente. (= Várias pessoas passavam apressadamente.)
10 - Gênero pela espécie: Os mortais pensam e sofrem nesse mundo. (= Os homens pensam e sofrem nesse mundo.)
11 - Singular pelo plural: A mulher foi chamada para ir às ruas na luta por seus direitos. (= As mulheresforam chamadas, não apenas uma mulher.)
12 - Marca pelo produto: Minha filha adora danone. (= Minha filha adora o iogurte que é da marca danone.)
13 - Espécie pelo indivíduo: O homem foi à Lua. (= Alguns astronautas foram à Lua.)
14 - Símbolo pela coisa simbolizada: A balança penderá para teu lado. (= A justiça ficará do teu lado.)
2 - Inventor pelo invento: Édson ilumina o mundo. (= As lâmpadas iluminam o mundo.)
3 - Símbolo pelo objeto simbolizado: Não te afastes da cruz. (= Não te afastes da religião.)
4 - Lugar pelo produto do lugar: Fumei um saboroso havana. (= Fumei um saboroso charuto.)
5 - Efeito pela causa: Sócrates bebeu a morte. (= Sócrates tomou veneno.)
6 - Causa pelo efeito: Moro no campo e como do meu trabalho. (= Moro no campo e como o alimento que produzo.)
7 - Continente pelo conteúdo: Bebeu o cálice todo. (= Bebeu todo o líquido que estava no cálice.)
8 - Instrumento pela pessoa que utiliza: Os microfones foram atrás dos jogadores. (= Os repórteresforam atrás dos jogadores.)
9 - Parte pelo todo: Várias pernas passavam apressadamente. (= Várias pessoas passavam apressadamente.)
10 - Gênero pela espécie: Os mortais pensam e sofrem nesse mundo. (= Os homens pensam e sofrem nesse mundo.)
11 - Singular pelo plural: A mulher foi chamada para ir às ruas na luta por seus direitos. (= As mulheresforam chamadas, não apenas uma mulher.)
12 - Marca pelo produto: Minha filha adora danone. (= Minha filha adora o iogurte que é da marca danone.)
13 - Espécie pelo indivíduo: O homem foi à Lua. (= Alguns astronautas foram à Lua.)
14 - Símbolo pela coisa simbolizada: A balança penderá para teu lado. (= A justiça ficará do teu lado.)
Saiba
que:
Atualmente,
não se faz mais a distinção entre metonímia e sinédoque (emprego de um termo
em lugar de outro), havendo entre ambos relação de extensão. Por ser mais
abrangente, o conceito de metonímia prevalece sobre o de sinédoque.
|
Catacrese
Trata-se de uma metáfora que, dado seu uso
contínuo, cristalizou-se. A catacrese costuma ocorrer quando, por falta de um
termo específico para designar um conceito, toma-se outro
"emprestado". Assim, passamos a empregar algumas palavras fora de seu
sentido original.
Exemplos:
"asa da
xícara"
|
"batata da
perna"
|
"maçã do
rosto"
|
"pé da
mesa"
|
"braço da
cadeira"
|
"coroa do
abacaxi"
|
Perífrase
Trata-se de uma expressão que designa um ser através de alguma de suas
características ou atributos, ou de um fato que o celebrizou. Veja o exemplo:
A Cidade Maravilhosa (= Rio de Janeiro) continua atraindo visitantes do
mundo todo.
Obs.: quando a perífrase indica uma pessoa, recebe
o nome de antonomásia.
Exemplos:
O Divino Mestre (= Jesus Cristo)
passou a vida praticando o bem.
O Poeta dos Escravos (= Castro Alves) morreu muito jovem.
O Poeta da Vila (= Noel Rosa) compôs lindas canções.
O Poeta dos Escravos (= Castro Alves) morreu muito jovem.
O Poeta da Vila (= Noel Rosa) compôs lindas canções.
Sinestesia
Consiste em mesclar, numa mesma expressão, as sensações percebidas por
diferentes órgãos do sentido.
Exemplos:
Um grito áspero revelava
tudo o que sentia. (grito = auditivo; áspero = tátil)
No silêncio escuro do seu quarto, aguardava os acontecimentos. (silêncio = auditivo; negro = visual)
No silêncio escuro do seu quarto, aguardava os acontecimentos. (silêncio = auditivo; negro = visual)
Figuras de Pensamento
Dentre as figuras de pensamento, as mais comuns são:
Antítese
Consiste na utilização de dois termos que contrastam entre
si. Ocorre quando há uma aproximação de palavras ou expressões de sentidos
opostos. O contraste que se estabelece serve, essencialmente, para dar uma
ênfase aos conceitos envolvidos que não se conseguiria com a exposição isolada
dos mesmos. Observe os exemplos:
"O mito é o nada que
é tudo." (Fernando Pessoa)
O corpo é grande e a alma é pequena.
"Quando um muro separa, uma ponte une."
"Desceu aos pântanos com os tapires; subiu aos Andes com os condores." (Castro Alves)
Felicidade e tristeza tomaram conta de sua alma.
O corpo é grande e a alma é pequena.
"Quando um muro separa, uma ponte une."
"Desceu aos pântanos com os tapires; subiu aos Andes com os condores." (Castro Alves)
Felicidade e tristeza tomaram conta de sua alma.
Paradoxo
Consiste numa proposição aparentemente absurda, resultante da união
de ideias contraditórias. Veja o exemplo:
Na reunião, o funcionário afirmou
que o operário quanto mais trabalha mais tem dificuldades econômicas.
Eufemismo
Consiste em empregar uma expressão mais suave, mais nobre ou
menos agressiva, para comunicar alguma coisa áspera, desagradável ou chocante.
Exemplos:
Depois de muito sofrimento, entregou
a alma ao Senhor. (= morreu)
O prefeito ficou rico por meios ilícitos. (= roubou)
Fernando faltou com a verdade. (= mentiu)
O prefeito ficou rico por meios ilícitos. (= roubou)
Fernando faltou com a verdade. (= mentiu)
Ironia
Consiste em dizer o contrário do
que se pretende ou em satirizar, questionar certo tipo de pensamento com a
intenção de ridicularizá-lo, ou ainda em ressaltar algum aspecto passível
de crítica. A ironia deve ser muito bem construída para que cumpra a sua
finalidade; mal construída, pode passar uma ideia exatamente oposta à desejada
pelo emissor.
Veja os exemplos abaixo:
Como você foi bem na última
prova, não tirou nem a nota mínima!
Parece um anjinho aquele menino, briga com todos que estão por perto.
Parece um anjinho aquele menino, briga com todos que estão por perto.
Hipérbole
É a expressão intencionalmente exagerada com o intuito
de realçar uma ideia. Exemplos:
Faria isso milhões de vezes se fosse preciso.
"Rios te correrão dos olhos, se chorares." (Olavo Bilac)
Faria isso milhões de vezes se fosse preciso.
"Rios te correrão dos olhos, se chorares." (Olavo Bilac)
Prosopopeia ou Personificação
Consiste em atribuir ações ou qualidades de seres animados a seres
inanimados, ou características humanas a seres não humanos.
Observe os exemplos:
As pedras andam vagarosamente.
O livro é um mudo que fala, um surdo que ouve, um cego que guia.
A floresta gesticulava nervosamente diante da serra.
O vento fazia promessas suaves a quem o escutasse.
O livro é um mudo que fala, um surdo que ouve, um cego que guia.
A floresta gesticulava nervosamente diante da serra.
O vento fazia promessas suaves a quem o escutasse.
Chora,
violão.
Apóstrofe
Consiste na "invocação" de
alguém ou de alguma coisa personificada, de acordo com o objetivo do discurso
que pode ser poético, sagrado ou profano. Caracteriza-se pelo chamamento do
receptor da mensagem, seja ele imaginário ou não. A introdução da apóstrofe
interrompe a linha de pensamento do discurso, destacando-se assim a entidade a
que se dirige e a ideia que se pretende pôr em evidência com tal invocação.
Realiza-se por meio do vocativo.
Exemplos:
Moça, que fazes aí parada?
"Pai Nosso, que estais no céu..."
"Liberdade, Liberdade,
Abre as asas sobre nós,
Das lutas, na tempestade,
Dá que ouçamos tua voz..." (Osório Duque Estrada)
"Pai Nosso, que estais no céu..."
"Liberdade, Liberdade,
Abre as asas sobre nós,
Das lutas, na tempestade,
Dá que ouçamos tua voz..." (Osório Duque Estrada)
Gradação
Consiste em dispor as ideias por
meio de palavras, sinônimas ou não, em ordem crescente ou decrescente.
Quando a progressão é ascendente, temos o clímax; quando é
descendente, o anticlímax.
Observe este exemplo:
Havia o céu, havia a terra, muita
gente e mais Joana com seus olhos claros e brincalhões...
O objetivo do narrador é mostrar a expressividade
dos olhos de Joana. Para chegar a esse detalhe, ele se refere ao céu, à terra,
às pessoas e, finalmente, a Joana e seus olhos. Nota-se que o pensamento foi expresso
em ordem decrescente de intensidade.
Outros exemplos:
"Vive só para mim, só para a
minha vida, só para meu amor". (Olavo Bilac)
"O trigo... nasceu, cresceu, espigou, amadureceu, colheu-se." (Padre Antônio Vieira)
"O trigo... nasceu, cresceu, espigou, amadureceu, colheu-se." (Padre Antônio Vieira)
Figuras de Construção ou Sintáticas
As figuras de construção ocorrem quando desejamos
atribuir maior expressividade ao significado. Assim, a lógica
da frase é substituída pela maior expressividade que se dá ao sentido.
Elipse
Consiste na omissão de um ou mais
termos numa oração que podem ser facilmente identificados, tanto por elementos
gramaticais presentes na própria oração, quanto pelo contexto.
Exemplos:
1) A cada um o que é seu.
(Deve se dar a cada um o que é seu.)
2)Tenho duas filhas, um filho e amo todos da mesma maneira.
Nesse exemplo, as desinências verbais de tenho e amo permitem-nos a identificação do sujeito em elipse "eu".
3)Regina estava atrasada. Preferiu ir direto para o trabalho. (Ela, Regina, preferiu ir direto para o trabalho, pois estava atrasada.)
4) As rosas florescem em maio, as margaridas em agosto. (As margaridas florescem em agosto.)
2)Tenho duas filhas, um filho e amo todos da mesma maneira.
Nesse exemplo, as desinências verbais de tenho e amo permitem-nos a identificação do sujeito em elipse "eu".
3)Regina estava atrasada. Preferiu ir direto para o trabalho. (Ela, Regina, preferiu ir direto para o trabalho, pois estava atrasada.)
4) As rosas florescem em maio, as margaridas em agosto. (As margaridas florescem em agosto.)
Zeugma
Zeugma é uma forma de elipse. Ocorre quando é feita a
omissão de um termo já mencionado anteriormente.
Exemplos:
Ele gosta de
geografia; eu, de português.
Na casa dela só havia móveis antigos; na minha, só móveis modernos.
Ela gosta de natação; eu, de vôlei.
No céu há estrelas; na terra, você.
Na casa dela só havia móveis antigos; na minha, só móveis modernos.
Ela gosta de natação; eu, de vôlei.
No céu há estrelas; na terra, você.
Silepse
A silepse é a concordância que se
faz com o termo que não está expresso no texto, mas sim com a ideia que ele
representa. É uma concordância anormal, psicológica, espiritual, latente,
porque se faz com um termo oculto, facilmente subentendido. Há três tipos de
silepse: de gênero, número e pessoa.
Silepse de Gênero
Os gêneros são masculino e feminino.
Ocorre a silepse de gênero quando a concordância se faz com a ideia que
o termo comporta.
Exemplos:
1) A bonita Porto Velho sofreu mais
uma vez com o calor intenso.
Nesse caso, o adjetivo bonita não está concordando com o termo Porto Velho, que gramaticalmente pertence ao gênero masculino, mas com a ideia contida no termo (a cidade de Porto Velho).
2) Vossa excelência está preocupado.
Nesse exemplo, o adjetivo preocupado concorda com o sexo da pessoa, que nesse caso é masculino, e não com o termo Vossa excelência.
Nesse caso, o adjetivo bonita não está concordando com o termo Porto Velho, que gramaticalmente pertence ao gênero masculino, mas com a ideia contida no termo (a cidade de Porto Velho).
2) Vossa excelência está preocupado.
Nesse exemplo, o adjetivo preocupado concorda com o sexo da pessoa, que nesse caso é masculino, e não com o termo Vossa excelência.
Silepse de Número
Os números são singular e plural.
A silepse de número ocorre quando o verbo da oração não concorda
gramaticalmente com o sujeito da oração, mas com a ideia que nele está contida.
Exemplos:
A procissão saiu. Andaram por
todas as ruas da cidade de Salvador.
Como vai a turma? Estão bem?
O povo corria por todos os lados e gritavam muito alto.
Como vai a turma? Estão bem?
O povo corria por todos os lados e gritavam muito alto.
Note que nos exemplos acima, os verbos andaram, estão e gritavam não
concordam gramaticalmente com os sujeitos das orações (que se encontram no
singular, procissão, turma e povo,
respectivamente), mas com a ideia de pluralidade que neles
está contida. Procissão, turma e povo dão a ideia de muita gente, por isso que
os verbos estão no plural.
Silepse de Pessoa
Três são as pessoas gramaticais:
a primeira, a segunda e a terceira. A silepse de pessoa ocorre quando há um
desvio de concordância. O verbo, mais uma vez, não concorda com
o sujeito da oração, mas sim com a pessoa que está inscrita no sujeito.
Exemplos:
O que não compreendo é como
os brasileiros persistamos em aceitar essa
situação.
Os agricultores temos orgulho de nosso trabalho.
"Dizem que os cariocas somos poucos dados aos jardins públicos." (Machado de Assis)
Os agricultores temos orgulho de nosso trabalho.
"Dizem que os cariocas somos poucos dados aos jardins públicos." (Machado de Assis)
Observe que os verbos persistamos, temos e somos não
concordam gramaticalmente com os seus sujeitos (brasileiros, agricultores e cariocas que
estão na terceira pessoa), mas com a ideia que neles está contida (nós,
os brasileiros, os agricultores e os cariocas).
Polissíndeto / Assíndeto
Para estudarmos essas duas figuras de construção, é necessário recordar
um conceito estudado em sintaxe sobre período composto. No período composto por
coordenação, podemos ter orações sindéticas ou assindéticas.
A oração coordenada ligada por uma conjunção (conectivo) é sindética;
a oração que não apresenta conectivo é assindética.
Recordado esse conceito, podemos definir as duas figuras de construção:
1) Polissíndeto
É uma figura caracterizada pela repetição enfática dos
conectivos. Observe o exemplo:
"Falta-lhe o solo aos pés:
recua e corre, vacila e grita, luta e ensanguenta, e rola, e tomba, e se
espedaça,e morre." (Olavo Bilac)
"Deus criou o sol e a lua e as estrelas. E fez o homem e deu-lhe inteligência e fê-lo chefe da natureza.
"Deus criou o sol e a lua e as estrelas. E fez o homem e deu-lhe inteligência e fê-lo chefe da natureza.
2) Assíndeto
É uma figura caracterizada pela ausência, pela omissão das
conjunções coordenativas, resultando no uso de orações coordenadas
assindéticas.
Exemplos:
Tens casa, tens roupa, tens amor,
tens família.
"Vim, vi, venci." (Júlio César)
"Vim, vi, venci." (Júlio César)
Pleonasmo
Consiste na repetição de um termo ou ideia, com as
mesmas palavras ou não. A finalidade do pleonasmo é realçar a ideia, torná-la
mais expressiva.
Veja este exemplo:
O problema da violência, é
necessário resolvê-lo logo.
Nesta oração, os termos "o problema da violência" e "lo" exercem a mesma função sintática: objeto direto. Assim, temos um pleonasmo do objeto direto, sendo o pronome "lo" classsificado como objeto direto pleonástico.
Outro exemplo:
Aos funcionários, não lhes interessam
tais medidas.
Aos funcionários, lhes = Objeto Indireto
Nesse caso, há um pleonasmo do objeto indireto, e o pronome "lhes" exerce a função de objeto indireto pleonástico.
Aos funcionários, lhes = Objeto Indireto
Nesse caso, há um pleonasmo do objeto indireto, e o pronome "lhes" exerce a função de objeto indireto pleonástico.
Exemplos:
"Vi, claramente
visto, o lumo vivo." (Luís de Camões)
"Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal." (Fernando Pessoa)
"E rir meu riso." (Vinícius de Moraes)
"O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem." (Manuel Bandeira)
"Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal." (Fernando Pessoa)
"E rir meu riso." (Vinícius de Moraes)
"O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem." (Manuel Bandeira)
Observação: o pleonasmo só tem razão de ser quando
confere mais vigor à frase; caso contrário, torna-se um pleonasmo
vicioso. Exemplos:
Vi aquela cena com meus próprios
olhos.
Vamos subir para cima.
Vamos subir para cima.
Anáfora
É a repetição de uma ou mais
palavras no início de várias frases, criando assim, um efeito de reforço e de
coerência. Pela repetição, a palavra ou expressão em causa é posta em destaque,
permitindo ao escritor valorizar determinado elemento textual. Os termos anafóricos
podem muitas vezes ser substituídos porpronomes relativos. Assim, observe
o exemplo abaixo:
Encontrei um amigo ontem. Ele disse-me
que te conhecia. O termo ele é um termo anafórico, já que se
refere a um amigo anteriormente referido.
Observe outro exemplo:
"Se você gritasse
Se você gemesse,
Se você tocasse
a valsa vienense
Se você dormisse,
Se você cansasse,
Se você morresse...
Mas você não morre,
Você é duro José!" (Carlos Drummond de Andrade)
Se você gemesse,
Se você tocasse
a valsa vienense
Se você dormisse,
Se você cansasse,
Se você morresse...
Mas você não morre,
Você é duro José!" (Carlos Drummond de Andrade)
Anacoluto
Consiste na mudança da construção sintática no meio
da frase, ficando alguns termos desligados do resto do período. Veja o
exemplo:
Esses alunos da escola, não se
pode duvidar deles.
A expressão "esses alunos da
escola" deveria exercer a função de sujeito. No entanto, há uma
interrupção da frase e essa expressão fica à parte, não exercendo nenhuma
função sintática. O anacoluto também é chamado de "frase quebrada",
pois corresponde a uma interrupção na sequência lógica do pensamento.
Exemplos:
Exemplos:
O Alexandre, as
coisas não lhe estão indo muito bem.
A velha hipocrisia, recordo-me dela com vergonha. (Camilo Castelo Branco)
A velha hipocrisia, recordo-me dela com vergonha. (Camilo Castelo Branco)
Obs.: o anacoluto deve ser usado com
finalidade expressiva em casos muito especiais. Em geral, deve-se evitá-lo.
Hipérbato / Inversão
É a inversão da estrutura frásica, isto é, a inversão da
ordem direta dos termos da oração. Exemplos:
Ao ódio venceu o amor. (Na ordem
direta seria: O amor venceu ao ódio.)
Dos meus problemas cuido eu! (Na ordem direta seria: Eu cuido dos meus problemas.)
Dos meus problemas cuido eu! (Na ordem direta seria: Eu cuido dos meus problemas.)
Figuras
de Som
Aliteração
Consiste
na repetição de consoantes como recurso para intensificação do
ritmo ou como efeito sonoro significativo. Exemplos:
Três pratos de trigo
para três tigres tristes.
O rato roeu a roupa do rei de Roma.
"Vozes veladas, veludosas vozes,
Volúpias dos violões, vozes veladas
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas."
Cruz e Souza (Aliteração em "v")
O rato roeu a roupa do rei de Roma.
"Vozes veladas, veludosas vozes,
Volúpias dos violões, vozes veladas
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas."
Cruz e Souza (Aliteração em "v")
Assonância
Consiste
na repetição ordenada de sons vocálicos idênticos. Exemplos:
"Sou um mulato nato no sentido lato
mulato democrático do litoral."
mulato democrático do litoral."
Onomatopeia
Ocorre
quando se tentam reproduzir na forma de palavras os sons da
realidade. Exemplos:
Os sinos faziam blem, blem, blem, blem.
Miau, miau. (Som emitido pelo gato)
Tic-tac, tic-tac fazia o relógio da sala de jantar.
Cócórócócó, fez o galo às seis da manhã.
Miau, miau. (Som emitido pelo gato)
Tic-tac, tic-tac fazia o relógio da sala de jantar.
Cócórócócó, fez o galo às seis da manhã.
3 -
Vícios de Linguagem
Ao contrário das figuras de linguagem, que representam realce e beleza às
mensagens emitidas, os vícios de linguagem são palavras ou
construções que vão de encontro às normas gramaticais. Os vícios de linguagem
costumam ocorrer por descuido, ou ainda por desconhecimento das regras por
parte do emissor. Observe:
Pleonasmo
Vicioso ou Redundância
Diferentemente
do pleonasmo tradicional, tem-se pleonasmo vicioso quando há repetição
desnecessária de uma informação na frase.
Exemplos:
Entrei para
dentro de casa quando começou a anoitecer.
Hoje fizeram-me uma surpresa inesperada.
Encontraremos outra alternativa para esse problema.
Hoje fizeram-me uma surpresa inesperada.
Encontraremos outra alternativa para esse problema.
Observação:
o pleonasmo é considerado vício de linguagem quando usado desnecessariamente,
no entanto, quando usado para reforçar a mensagem, constitui uma figura de
linguagem.
Barbarismo
É o
desvio da norma que ocorre nos seguintes níveis:
1)
Pronúncia
a)
Silabada: erro
na pronúncia do acento tônico.
Por Exemplo: Solicitei à cliente sua rúbrica.
(rubrica)
b)
Cacoépia: erro na
pronúncia dos fonemas.
Por
Exemplo: Estou
com poblemas a resolver. (problemas)
c)
Cacografia: erro
na grafia ou na flexão de uma palavra.
Exemplos:
Eu advinhei
quem ganharia o concurso. (adivinhei)
O segurança deteu aquele homem. (deteve)
O segurança deteu aquele homem. (deteve)
2)
Morfologia
Exemplos:
Se
eu ir aí, vou me atrasar. (for)
Sou a aluna mais maior da turma. (maior)
Sou a aluna mais maior da turma. (maior)
3)
Semântica
Por
Exemplo: José comprimentou seu
vizinho ao sair de casa. (cumprimentou)
4)
Estrangeirismos
Considera-se
barbarismo o emprego desnecessário de palavras estrangeiras, ou seja, quando já
existe palavra ou expressão correspondente na língua.
Exemplos:
O show é
hoje! (espetáculo)
Vamos tomar um drink? (drinque)
Vamos tomar um drink? (drinque)
Solecismo
É o
desvio de sintaxe, podendo ocorrer nos seguintes níveis:
1)
Concordância
Por
Exemplo: Haviam muitos alunos naquela sala.
(Havia)
2)
Regência
Por
Exemplo: Eu
assisti o filme em casa. (ao)
3)
Colocação
Por Exemplo: Dancei tanto na festa que não
aguentei-me em pé. (não me aguentei em pé)
Ambiguidade
ou Anfibologia
Ocorre
quando, por falta de clareza, há duplicidade de sentido da frase.
Exemplos:
Ana
disse à amiga que seu namorado havia chegado. (O namorado é
de Ana ou da amiga?)
O pai falou com o filho caído no chão. (Quem estava caído no chão? Pai ou filho?)
O pai falou com o filho caído no chão. (Quem estava caído no chão? Pai ou filho?)
Cacofonia
Ocorre
quando a junção de duas ou mais palavras na frase provoca som desagradável ou
palavra inconveniente.
Exemplos:
Uma mão lava outra. (mamão)
Vi ela na esquina. (viela)
Dei um beijo na boca dela. (cadela)
Vi ela na esquina. (viela)
Dei um beijo na boca dela. (cadela)
Eco
Ocorre
quando há palavras na frase com terminações iguais ou semelhantes, provocando
dissonância.
Por
Exemplo: A divulgação da
promoção não causou comoção na população.
Hiato
Ocorre
quando há uma sequência de vogais, provocando dissonância.
Exemplos:
Eu
a amo.
Ou eu ou a outra ganhará o concurso.
Ou eu ou a outra ganhará o concurso.
Colisão
Ocorre
quando há repetição de consoantes iguais ou semelhantes, provocando
dissonância.
Por
Exemplo: Sua saia sujou.
Funções da Linguagem
Para que serve a linguagem?
Sabemos que a linguagem é uma das formas de
apreensão e de comunicação das coisas do mundo. O ser humano, ao viver em
conjunto, utiliza vários códigos para representar o que pensa, o que sente, o
que quer, o que faz.
Sendo assim, o que conseguimos expressar e
comunicar através da linguagem? Para que ela funciona?
A multiplicidade da linguagem pode ser sintetizada
em seis funções ou finalidades básicas.
Veja a
seguir:
1) Função Referencial ou Denotativa
Palavra-chave: referente
Transmite uma informação objetiva sobre a realidade. Dá prioridade aos
dados concretos, fatos e circunstâncias. É a linguagem característica das
notícias de jornal, do discurso científico e de qualquer exposição de
conceitos. Coloca em evidência o referente, ou seja, o assunto ao qual a
mensagem se refere.
Exemplo:
Numa
cesta de vime temos um cacho de uvas, uma maçã, uma laranja, uma banana e um
morango. (Este texto informa o que há dentro da cesta, logo,
há função referencial).
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2) Função Expressiva ou Emotiva
Palavra-chave: emissor
Reflete o estado de ânimo do emissor, os seus
sentimentos e emoções. Um dos indicadores da função emotiva num texto é a
presença de interjeições e de alguns sinais de pontuação, como as reticências e
o ponto de exclamação.
Exemplos:
a) Ah,
que coisa boa!
b)
Tenho um pouco de medo...
c) Nós
te amamos!
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3) Função Apelativa ou Conativa
Palavra-chave: receptor
Seu objetivo é influenciar o receptor ou
destinatário, com a intenção de convencê-lo de algo ou dar-lhe ordens. Como o
emissor se dirige ao receptor, é comum o uso de tu e você, ou o nome da pessoa,
além dos vocativos e imperativo. É a linguagem usada nos discursos, sermões e
propagandas que se dirigem diretamente ao consumidor.
Exemplos:
a) Você
já tomou banho?
b) Mãe,
vem cá!
c) Não
perca esta promoção!
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4) Função Poética
Palavra-chave: mensagem
É aquela que põe em evidência a forma da mensagem,
ou seja, que se preocupa mais em como dizer do que com o
que dizer. O escritor, por exemplo, procura fugir das formas habituais e
expressão, buscando deixar mais bonito o seu texto, surpreender, fugir da
lógica ou provocar um efeito humorístico. Embora seja própria da obra
literária, a função poética não é exclusiva da poesia nem da literatura em
geral, pois se encontra com frequência nas expressões cotidianas de valor
metafórico e na publicidade.
Exemplos:
a)
“... a lua era um desparrame de prata”.
(Jorge Amado) |
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b)
Em tempos de turbulência, voe com fundos de renda fixa.
(Texto publicitário) |
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c) Se
eu não vejo
a mulher que eu mais desejo nada que eu veja vale o que eu não vejo (Daniel Borges) |
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5) Função Fática
Palavra-chave: canal
Tem por finalidade estabelecer, prolongar ou
interromper a comunicação. É aplicada em situações em que o mais importante não
é o que se fala, nem como se fala, mas sim o contato
entre o emissor e o receptor. Fática quer dizer "relativa ao fato",
ao que está ocorrendo. Aparece geralmente nas fórmulas de cumprimento: Como
vai, tudo certo?; ou em expressões que confirmam que alguém está ouvindo ou
está sendo ouvido: sim, claro, sem dúvida, entende?, não é mesmo? É
a linguagem das falas telefônicas, saudações e similares.
Exemplo:
Alô?
Está me ouvindo?
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6) Função Metalinguística
Sumário
Nenhuma entrada de sumário foi encontrada.
Palavra-chave: código
Esta função refere-se à metalinguagem, que ocorre
quando o emissor explica um código usando o próprio código. É a poesia que fala
da poesia, da sua função e do poeta, um texto que comenta outro texto. As
gramáticas e os dicionários são exemplos de metalinguagem.
Exemplo:
Frase é
qualquer enunciado linguístico com sentido acabado.
(Para
dar a definição de frase, usamos uma frase.)
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Observações:
- Em um
mesmo texto podem aparecer várias funções da linguagem. O importante é saber
qual a função predominante no texto, para então defini-lo.
- As
funções para a linguagem foram bem caracterizadas em 1960, por um famoso
linguista russo chamado Roman Jakobson, num célebre ensaio intitulado
"Linguística e Poética".
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