Estranhas Conexões –
Crônica de Luis Fernando Veríssimo
Aquela teoria
de que no máximo seis graus separam qualquer pessoa de qualquer outra pessoa no
mundo, viva ou morta, pode levar a conexões surpreendentes. Quem se lembra de
uma musica cantada pelo Sacha Distel num filme da Brigitte Bardot, se não me
falham os neurônios, chamada Scoubidou (“Les pommes, les poires et les
scoubidoubidou-ah”), não sonha que a origem da música é uma composição do
americano Lewis Allan, Apples, Peaches and Cherries, maçãs, pêssegos e cerejas,
popularizada pela cantora Peggy Lee, nem que Lewis Allan era o pseudônimo de
Abel Meeropol, poeta comunista, autor de, entre outras coisas, um poema que ele
mesmo transformou em música chamado Strange Fruit, que a Billie Holiday cantava
chorando. As “estranhas frutas” pendendo de árvores no Sul dos Estados Unidos,
no poema de Meeropol, são os corpos de negros linchados.
Billie Holiday
insistia em cantar Strange Fruit apesar de protestos. Não era uma música
adequada para o público branco que a ouvia, em lugares muitas vezes racialmente
segregados, e sua insistência quase lhe custou a carreira. Era incomum, na
época, artistas negros se manifestarem abertamente contra o racismo, ainda mais
na forma pungente da composição de Meeropol. Alguém chegou a dizer que se a
revolta contra o racismo no Sul americano um dia chegasse a crescer e se
organizar, o movimento já tinha a sua Marseillaise. Mas enquanto isto não
acontecia, quem manteve a música viva, de maneira quase clandestina, foi Billie
Holiday. Que morreu sem ver a revista Time citar Strange Fruit como uma das
músicas mais importantes do século 20.
Abel Meeropol
foi um compositor de sucesso popular como “Lewis Allan” mas nunca deixou de ser
um ativista político, chamado muitas vezes a explicar suas atividades –
inclusive a autoria de Strange Fruit – diante da inquisição anticomunista. Foi
ele quem adotou os filhos de Julius e Ethel Rosemberg, executados na cadeira
elétrica como espiões soviéticos em 1953.
De Strange
Fruit a Scoubidou, do casal Rosemberg ao casal Brigitte Bardot-Sacha Distel…
Não sei quantos graus separam estes dois extremos, de gravidade e frivolidade.
Certamente menos do que os seis da teoria. Como é mesmo aquela frase? O mundo
dá muitas voltas. Às vezes, tonteia.
Análise
“estranhas conexões”…
O Veríssimo “não”
está tentando estabelecer “estranhas conexões” entre “Strange Fruit” e”
Scoubidou”, não! Ele está, simplesmente, matreiramente, subliminarmente,
tentando induzir a alguém acreditar que existem “conexões” entre Capitalismo e
Comunismo.
“Seis graus,
no máximo, separam qualquer pessoa de qualquer outra pessoa no mundo, viva ou
morta”? Difícil acreditar? Imagine-se comparar uma pessoa que, livremente,
lucidamente, apoia, prefere e escolhe a Liberdade, a Democracia e o Capitalismo,
como outra pessoa que, dizem, livremente, lucidamente, apoia, prefere e escolhe
a absoluta submissão, o cerceamento, a mordaça, o autoritarismo do paupérrimo
comunismo? Será que poderá haver “conexões” mesmo que “estranhas”, entre duas
pessoas?
Aliás, quem
sabe o prolixo Veríssimo, pela experiência própria, poderia nos fazer o obséquio
de nos esclarecer, nos ensinar, nos subverter, nos convencer das maravilhas do
comunismo, não é? É…
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